A Venezuela estava à espera de mais medidas da "ofensiva econômica" de controle de preços prometida pelo presidente Nicolás Maduro momentos após o chavismo conseguir vitória no voto nacional nas eleições municipais de domingo (8).
Maduro, que chegou à Presidência com magra vantagem em abril, ganhou um "respiro" com os resultados que deram aos chavistas quase 700 mil votos a mais sobre o bloco opositor, a MUD, no total nacional (49,24% dos governistas e aliados contra 42,72% dos oposicionistas).
Os números não são tão eloquentes, especialmente pelo fato de que a oposição manteve trunfos importantes --cinco dos seis cargos em jogo em Caracas, além de capitais como Maracaibo e San Cristóbal, entre as dez cidades mais populosas do país.
Leo Ramirez/AFP | ||
O presidente Nicolás Maduro exibe seu plano de governo, convertido em lei, em discurso logo após eleições municipais |
Os opositores conseguiram ainda ganhar em cidades até então na mão dos chavistas, como Barquisimeto, capital de Lara, governada por um chavista dissidente, e Valencia, a terceira maior cidade do país, cujo prefeito chavista foi afastado por corrupção.
O problema é no discurso. A MUD, liderada pelo governador Henrique Capriles, perdeu no quesito que ela mesma propusera para a eleição: o voto nacional, instrumento para transformá-la numa espécie de "plebiscito simbólico" sobre o governo Maduro.
"Capri-caprichito, toma seu plebiscito", provocou a plateia chavista no domingo no discurso do presidente venezuelano, que dedicou os números a seu mentor, Hugo Chávez, morto em março.
No palco na praça Bolívar, em Caracas, Maduro negou que as medidas para baixar os preços de eletrodomésticos --que elevaram sua aprovação semanas antes da eleição-- tenham sido eleitoreiras e prometeu anunciar nesta semana novos controles, agora destinados aos setores de habitação e alimentos.
Apesar do fortalecimento com a eleição, inclusive dentro do chavismo, o governo Maduro continua tendo de enfrentar problemas, como a inflação acima de 50% anuais --o Banco Central parece ter decidido, devido à eleição, segurar o índice de novembro que deveria ter sido divulgado na semana passada-- e a crise do câmbio. No mercado negro, um dólar vale hoje nove vezes mais que o valor oficial, de 6,3 bolívares fortes.
Na segunda-feira (7), economistas locais e analistas de mercado discutiam o que Maduro fará agora. Para o britânico Barclays Capital, o governo deve promover desvalorização em um horizonte entre 30 e 60 dias.
A consultoria de risco Eurasia Group apostava em desvalorização, mesmo que só para um grupo de produtos.
"Dado o sucesso [popular] recente de ações intervencionistas, o risco de novas intervenções segue alto. Mais importante: as facções radicais do chavismo estão no controle da política econômica", disse a consultoria a clientes.
NOVA ESTRATÉGIA
No campo da oposição, o momento era de reacomodação, com vistas aos dois anos nos quais não haverá novas eleições --o próximo teste nas urnas será a renovação da Assembleia, no fim de 2015.
A conquista de grandes cidades dava, nas palavras de um estrategista opositor, "músculo" financeiro e vitrine para não "desaparecer" do debate público. Vozes pedem que a estratégia oposicionista inclua mobilizações populares e outros tipos de ações, para que sua presença em quase 40% do país não seja "atropelada" pelo governo.
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