viernes, 4 de septiembre de 2009

PROFESIONALES CON PERFIL GLOBAL -MULTINACIONALES BRASILERAS

Vian Broge, gerente de RH e Marketing da Natura está de malas prontas para o MéxicoSÃO PAULO - Duas décadas depois de abrir mercados, o País já encara a globalização como aliada. Antes vilã por fechar empresas e provocar desemprego, hoje ela remete aos emergentes do Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e às multinacionais brasileiras. Na nova etapa da globalização, a posição defensiva dos anos 90 deu lugar à ambição. Mais de 800 corporações nacionais atuam no exterior, com investimento superior a US$ 100 bilhões – só em 2008 foram US$ 20 bilhões.
Não são só as empresas do País que estão em alta. “Apesar de a quantidade de profissionais com perfil global no Brasil ainda ser pequena, eles são muito valorizados lá fora”, diz Marcelo de Lucca, gerente da empresa de recrutamento Michael Page. “O executivo daqui teve de se adaptar a um cenário volátil. Pelas crises econômicas, tem facilidade de se relacionar e é mais ocidentalizado do que outros do Brics.”
A reação à crise financeira reforçou projeções do Brasil como potência econômica em 2020. Mas, para chegar lá, o País precisa de profissionais de visão global, preparados para competir e liderar.
“Quem pensa que só a faculdade é suficiente estará em desvantagem. É preciso ter perspectiva global”, diz Rodolfo Eschenbach, líder da área de organização e talentos da consultoria Accenture. “Precisamos de profissionais que analisem, entendam e interfiram no mundo”, afirma Matias Spektor, coordenador do Centro de Estudos Internacionais da FGV.
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Malas prontas
Aos 33 anos, Vivian Broge, gerente de Recursos Humanos da Natura, está de malas prontas para, como diz Spektor, “interferir no mundo”. Em alguns dias, ela vai se mudar para a Cidade do México, de onde vai comandar as áreas de RH e Marketing de Relacionamento da empresa – presente em sete países. “Cada vez mais as equipes são multiculturais e precisamos de pessoas que tenham uma visão de mundo diferente e complementar. Isso é viver a globalização.”
Filha de alemão com portuguesa, Vivian sempre transitou bem por outras culturas, mas essa será sua primeira experiência como expatriada (funcionária deslocada para um posto no exterior). “Ainda que eu volte para o mesmo cargo, valerá a pena.”
Para preparar pessoas como Vivian para assumir postos de comando em outros países, boa parte das empresas aposta em treinamentos “caseiros”. “Buscamos profissionais que já estejam um pouco preparados para a globalização. A formação técnica, a gente dá aqui dentro”, diz o gerente de Desenvolvimento de Gente da Ambev, Thiago Porto.
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Diretor de Tecnologia da Informação e Serviços Compartilhados da Ambev, Renato Nahas, de 42 anos, entrou na empresa em 1996, aos 29. Três anos depois, fez um MBA in company, montado pela própria empresa, com direito a um módulo em Nova York. Em 2004 já estava na Bélgica, participando do Comitê de Convergência, que preparou a unificação da cultura empresarial entre a companhia brasileira e a belga Interbrew.
“O choque foi ver como brasileiros e europeus pensam de forma diferente. Nós preferimos velocidade a perfeição, que, para eles, é o primordial”, diz Porto. A “pressa” brasileira, no entanto, fez a diferença no processo de fusão. “Quando montamos o plano com prazo de um ano, eles acharam impossível de executar. Mas nós assumimos a imperfeição e acertamos os pontos dissonantes depois”, diz Nahas.
Havia diferenças mais, digamos, pitorescas. “Após o almoço, só dava brasileiro escovando os dentes no banheiro. Os belgas achavam estranhíssimo, eles não têm costume de fazer isso fora de casa”, diz Nahas, que hoje trabalha em São Paulo, coordenando 900 pessoas. “Tive sorte de entrar numa empresa que sempre aspirou ser um player global.”
Pioneira
No caso da Odebrecht, essa ambição global teve início lá atrás, em 1979, quando a construtora começou a buscar mercados na América Latina. Quinta colocada em 2008 no ranking de transnacionais brasileiras da Fundação Dom Cabral, com ativos de R$ 8,1 bilhões no exterior, a Odebrecht está presente nas três Américas, na África, no Oriente Médio e na Europa. “Ao decidir por novas geografias, já tínhamos incorporado a percepção de quais competências seriam necessárias para enfrentar os desafios”, diz André Amaro, vice-presidente de Planejamento e Desenvolvimento.
Há 21 anos na Odebrecht, Amaro também foi um expatriado. No início dos anos 90, morou quatro anos na Alemanha. Trabalhou também na Argentina e em Portugal. “É um desafio largamente compensado pela adrenalina devencer.”
Vizinho alemão
“Vencer” inclui sucesso nos negócios e nas relações pessoais – algo que não se ensina em faculdades. Na Alemanha, Amaro tinha um vizinho que chamava a polícia sempre que a rotina da casa mudava. “No aniversário do meu filho, a polícia chegou às 8 da noite. Eu convidei o vizinho para um jantar, para estreitarmos os laços. Éramos cinco casais e ele foi o primeiro a sair, às 10 da noite. Mas chegou em casa e ligou para a polícia, reclamando do barulho”, lembra, rindo.
O responsável financeiro da vice-presidência da América Latina e Angola da Odebrecht, Fábio Freitas, de 33 anos, teve o primeiro cargo fora do Brasil aos 23 anos. “Sempre quis a experiência internacional, fosse qual fosse o país”, diz Freitas. Ele foi expatriado para Angola e para a Amazônia peruana, onde ficou de 2005 a 2008. Agora, já casado, preferiu ficar em São Paulo para criar o filho de dois anos, mas não deixou a ponte aérea. “Viajo todo mês.”
Freitas se enquadra no perfil do “novo profissional” que as empresas procuram, segundo Roberto Carlos Bernardes, doutor em Sociologia da Inovação pela USP e especialista em estratégia empresarial e gestão da inovação do Centro Universitário FEI. “É alguém que desenvolve projetos e, ao mesmo tempo, opera redes de gestão dispersas no mundo.”

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